213 - Terapia da Escrita

Escrever para mim ,além de terapia é também um ritual .
As vezes antes de escrever escolho o tipo de caneta, a cor, tipo de papel,a música ,
o lugar e por ai vai .
Tais procedimentos são gostosos, salutares .
É como se fossem materiais para um trabalho iniciático .
Preparo-me para o desconhecido que sairá ou que entrará em mim.
Posso ser agente ou um mero espectador .
Todas estas coisas me fascinam, quase me alucinam.
De repente se instala o litígio entre o Silencio que me envolve com o ruído
de meus pensamentos e sentimentos tentando se impor .
Com o tempo a guerra entre ambos parece terminar .
O silencio e os meus ruídos se fundem .
É espetacular esta fusão .
Torno-me um todo único ,indivizível .
Afluxos e refluxos de experiências se aglomeram ,pululam em mim .
Surge um forte desejo de registrar ,catalogar tudo ,mas é impossível .
Entro em estado de êxtase .
Rendo-me a estas avalanches que se afloram desmedidamente .
São esperiências raras .
Não exibem o acizentado e desgastado quotidiano comum .
Tento traduzir toda esta magia psíquica-cósmica em palavras .
Então nascem os textos ,nascem poemas .
Alguns harmoniosos,atraentes e ininteligíveis.
Outros verdes ,imaturos e insípidos.
De tempos e tempos eu os releio .
As vezes me dizem muito , as vezes não me dizem nada .
E assim continuo a minha jornada nesta estrada de palavras .
Gosto desta aventura ou loucura de querer fazer do Indizível ,dizível .
Alguns chamam tais processos de Arte .