211 - Como a cigarra .

Como a cigarra ,não trabalhei , não produzi ,não investi .
Pouco agi .
Maravilhado com a beleza do Mundo ,inebriei-me ,me perdi .
Não construi impérios .
Não fui sério .
Alienado contemplava o tempo e os seus mistérios .
Tudo o que eu via enfeitava com canticos e poesias .
De repente a Realidade chegou .
O corpo cansado pela idade cobrou-me .
Fiquei para traz .
Riram de mim .
Muitos pensam que fracassei ,
quando na verdade também venci ,
pois não menti ,não me vendi .
Preocupados em produzir não viram o que eu vi .
Sem pressa , sem tantos afazeres ardia em intimidade
com o lado doce do existir .
Não acumulei diamantes ,mas guardo segredos
que estão além do viver comum .
Vi cada estação trazendo suas lições .
Sem me preocupar em tanto TER ,sobrou-me tempo para SER .
Passo a maior parte do tempo feliz ,pois perdi o medo de perder .
Não congelei as minhas turbinas de Emoções .
Abismos e pressões sociais não vão mais me engolir .
Quando as dores vierem , penso que pouco sofrerei
pois anestesiado pela beleza do mundo estarei .
Quando se é muito feliz a dor quase não doi.
Tomara que as formigas entendam que as cigarras
mesmo sem trabalhar muito ajudaram .
Talvez se não existisse o canto das cigarras,
as formigas não suportariam suas lidas executar .