25- espaçonaves verbais

Sem me inspirar nesta ou naquela pessoa ,fato ou idéia,
quero apenas escrever em preto e branco.
Nada de estilos, começo, meio e fim.
Nada teatral, sofisticado.
Quero escrever esqueleticamente sem as roupagens dos
sentimentos e sensações.
Não me guiarei pelas normas da coerência .
Quero brincar, dançar com as palavras .
O silencio externo e interno vão me
m a q u i a n d o e não maquinando .
Quero adentrar no processo misturado, desordenado mas orgânico.
Percebo-me como uma arte viva ,visceral .
Tenho fome de outras fomes.
Quero ter sede de outras sedes. O limitado me desgasta .
O coração da busca bate sem parar .
Maravilho-me despido na luz da sensibilidade .
Ela ilumina o meu eu escuro.
Vejo a vida alem dos horizontes carnais ,
alem dos meus olhos mentais.
Ora sou diluido,ora sou triturado,ora transmudado.
O processo é indolor .
Uma avalanche perceptiva e irrefreável implode,me sacode.
Tudo é prazerosamente dilatado, anarquizado.
O sutil ganha colorido,formas .
O incompreensível continua incompreensível, porem,
palpavel,comunicavel.
Percebo minha respiração. Esta arfante.
O meu ser com inumeráveis tentáculos quer avidamente
banhar-se no lago profundo da percepção.
A sujeira da superficialidade fétida é deixada .
Despido de condicionamentos e mesmices do
existir ordinário, perfumo-me de essências vivas.
O mundo pesado das aparências se desfaz.
Adentro a um circulo magico e lúdico onde nada se perde.
Tudo interage numa harmonia curativa.
Talvez a vida seja um jogo interminável .
Ora joga com cartas tangíveis ora com cartas intangíveis .
Não me importo se a vida é um jogo ou uma miragem.
Seja o que ela for, é intensa e não tensa
como os meus radares teimam em interpretar.
Viver é um espetáculo luxuoso.
Perceber este espetáculo também.
Nestes momentos de magia vejo loucuras dissimuladas
em inabaláveis sanidades
espreitando minhas portas sensoriais.
Não as temo , pois o comum, me chama implacavelmente.
Divirto-me muito nestes passeios cujos veículos sao as palavras.
Uma pena que tudo o que eu trago de la se dissolve,
se perde em contato com a realidade cáustica do dia a dia.
Façamos menos viagens e viajemos mais em nós mesmos !
Qualquer dia destes escreverei sobre cabras,
bananeiras e crianças brincando no fundo dos quintais .
Acho que viver não é complicado e sim delicado.
Sejamos mais sensíveis !!!
O néctar salutar da existência não esta na
sua casa dura,feia e grossa, mas no seu lindo e suave miolo.
Mais sensíveis, sentiremos mais dores,
mas por outro lado sentiremos prazeres indizíveis
e inimagináveis em que a maioria das pessoas
nem imaginam que possam existir.
Viver é adorável e afetivamente perigoso.
Desperte a sua adrenalina !
Viva ! Viva ! Viva !
psicologo.augusto@hotmail.com